terça-feira, 11 de junho de 2013

Atlas... Inesquecível

Isto é que nós gostamos: uma bela estrada e saber que no fim de alguns km vai haver uma qualquer descoberta a fazer, um novo local a conhecer, novas gentes, novas experiências.

Marraquexe foi uma paragem marcante, mas como os dias vão avançando e ainda há coisas para ver e km para fazer, toca a arrancar para mais uns km e novas descobertas.
O dia em que saímos de Marraquexe estava previsto não ser muito complicado. Poucos km até às Cascades d’Ouzoude e depois mais alguns km até Ouarzazate, já a sul do Atlas, longe do Marrocos verde e húmido que nos tinha acompanhado até então. Mas como Marrocos é um país de surpresas, este dia acabou por ser um dos mais marcantes, longos e cansativos da viagem, para mim, pelo menos.


Ao fundo já se adivinham as montanhas do Atlas.

Sempre pronta para maus e bons caminhos! E aqui até já estava a ficar com uma certa patine...

 
Primeira paragem do dia: Cascades d’Ouzoude. Chegados à zona das cascatas apareceu logo um “guia oficial”. Conversa puxa conversa e lá combinamos uma visita de cerca de 1 hora por sítios menos turísticos (dentro do possível) e com a menor quantidade de gente possível. Foi uma escolha acertada, muito acertada!

Um pequeno desvio de 54 km até Ouzoude, numa estrada que mais tarde teríamos de repetir para voltar a este cruzamento e virar em direção a Demnate para então iniciarmos a travessia do Atlas.

Em qualquer sítio aparecem "obstáculos"... Mantemos sempre um ritmo calmo. Apreciamos melhor a paisagem e vamos muito melhor preparados para estes imprevistos na estrada.

Quanto o "passageiro humano" deixa de ter espaço que chegue, agarra numa ovelha e atira-a para outro canto da camioneta... O transporte de animais por aqui não deve seguir muitas regras...

Finalmente as Cascades! A primeira visão foi esta e deixou-nos logo rendidos a semelhante beleza natural.

Sempre boa disposição!
 Andamos a ver as terras de cultivo da população local, os macaquitos na encosta e a passear por locais com vistas excelentes para as cascatas. Sempre acompanhados da excelente disposição do nosso guia e com as suas explicações de tudo que víamos, plantas, árvores, pessoas, histórias locais. Impecável! Até conhecemos o “Bob Marley” lá do sítio! E parece que o nome não tem a ver com penteados ou tipos de música... Parece que é qualquer coisa relacionada com uns cigarritos de cheiro adocicado...
 
Tantos amigos encontrei por aqui!

Este jovem esteve sempre descontraído a olhar para os estrangeiros esquisitos que não paravam de tirar fotografias. Uma simpatia de rapaz!

Novamente a caminho da água.

Enfim... Muito fotogénico...
 

A dada altura estava-me a ser difícil acompanhar o ritmo do guia… Estranho! Mas eu até estou em forma e nem estou nada cansado! Parece que tenho os pés a arrastar pelo chão!... E tinha!! Bem, não os pés, mas metade da sola das botas! Aquilo descolou quase completamente numa bota e na outra não demorava muito para ir pelo mesmo caminho… Era só o que eu precisava! Ficar sem botas no meio de Marrocos… Mas em Marrocos sê marroquino e portanto toca a arranjar alguma solução! O guia, sempre disposto a ajudar, veio com uma solução estilo sistema D (depannage)! Um elástico em volta do pé, preso ao calcanhar e está feito! Deu para aguentar o resto do dia. E com um bom pedaço de fita americana ainda aguentou até ao regresso a casa (isto porque a cola e o sapateiro que tentaram arranjar as botas não sabiam muito do ofício e o resultado não se aguentou muito tempo…).
Sistema D(epannage)

Eu tentar, tentei... Mas o resultado não foi dos melhores...
Um cenário incrivelmente belo. As fotografias não fazem justiça ao que é na realidade.

Imponente

Os barquitos todos engalanados prontos para um tour perto da queda de água.
 
"Medo? Não! Não é medo... Mas passa tu primeiro Eduardo, já que estás à frente!"

Os 4 MotoTugas! Sempre animados!
O barulho e a nuvem de humidade eram impressionantes.



Mais umas saladas, umas tagines e muito pão, bem merecidas depois de umas centenas de degraus (e outros tantos que ainda faltavam)

Pelo meio da aldeia em busca de cola... Não encontramos... Mas valeu pelo passeio pela aldeia "real", longe dos autocarros a despejar 50 ou mais turistas de cada vez.

O nosso guia! Falava português de uma forma completamente perceptível! E aprendeu a língua a ler o dicionário!!
Vistas as cascatas e já com o almocinho comido, estava na hora de subir os milhões de degraus de volta ao parque onde as motas estavam e partir para mais uns km. Desta vez através do Atlas até Ouarzazate onde pretendíamos ficar pela noite.
Baseados numa dica de uma amiga (Obrigado Paula!) seguimos uma antiga pista, agora alcatroada, que se inicia em Demnate e segue até perto de Ouarzazate, já com as montanhas para trás. O percurso eram cerca de 150 km de montanha e os locais disseram que era estrada boa e por onde passavam os Grand Taxi e as camionetas. “Bem, o meu mapa (atualizado no Verão de 2012) deve estar desatualizado. Diz que é pista não alcatroada, mas deve ser engano! Vamos nessa!”. E fomos…

Paragem para descansar e aproveita-se e toca a fazer mais umas dobras no mapa! Abençoado mapa de plástico!

A apontar um buraco... Por esta altura, ainda pensava que "aquilo" era um buraco...
Mal eu sabia o que ainda estava para vir...

As vistas começaram a mudar assim que fomos entrando cada vez mais no Atlas.

Boa! Um troço com bom piso! Vamos aproveitar! Já não via tanto alcatrão junto há muito tempo!
Resumindo: o alcatrão estava lá, ou 30% dele, pelo menos. As chuvas e as pedras tinham arrancado parte da estrada em quase todo o percurso. Era uma questão de escolher o menor dos buracos para passar e não de os evitar. 150km demoraram algo mais que 5 horas de condução.  Mas… Foi espetacular!!!!!
Assim que nos encontramos mesmo no coração do Atlas, a grande altitude e a algumas horas de distância de qualquer indício de civilização, apareceram algumas aldeias. Tivemos, e falo de certeza por todos, a experiência mais marcante da viagem. O contacto com os miúdos locais. Um nível de pobreza abaixo de qualquer coisa que já tinha visto e no entanto uma cara de alegria genuína por verem os estrangeiros esquisitos, de mota e roupas estranhas. E quando distribuímos as canetas e afins que tinham ido connosco para situações destas… Foi emotivo… A cara dos miúdos… A felicidade de quem, com uma simples caneta na mão, está mais feliz que qualquer puto que acabou de ganhar a última novidade em PlayStations… E da nossa parte a certeza de lhes ter dado um pequeno tesouro. Foi indescritível… Ficou a vontade de fazer alguma coisa por aqueles miúdos… Nunca se sabe o que pode sair daqui!
 

Memorável! Sem palavras.

Com a novidade a passar rápido entre miúdos, depressa se juntaram uns quantos em nosso redor.
 
Havemos de voltar. Estas crianças merecem...
E, com algum custo, lá seguimos caminho! A dada altura, quando ao atravessar uma povoação, ficamos com a ideia que estaríamos a chegar a uma estrada melhor e quase no destino, perguntamos a um local qual a distância que ainda nos faltava. “60km” diz ele! E logo de seguida “2 horas! 60 km, 2 horas”… Seria verdade?... Foi… Foi uma verdade bem penosa, mas ainda assim fantástica! Os sítios por onde passamos foram de uma beleza fora do comum. O Atlas é uma cadeia montanhosa impressionante, em todos os aspetos. É de uma grandiosidade que nos deixa com a sensação de sermos pequeninos… E quando pensamos que uma boa parte daqueles picos ultrapassa os 3000 metros e até os 4000, temos a certeza: somos mesmo pequeninos!

Um hotel em adobe? Bem, toda a cidade é assim... Ouarzazate marcou a nossa entrada no "Marrocos do deserto"
As horas foram passando, bem mais depressa que os km, e por fim lá chegamos a Ouarzazate, já de noite. Começa o ritual de procurar hotel e depressa percebemos que já estamos no território bem turístico dos passeios de jipe pelo deserto e das GS’s paradas à porta de todos os hotéis. Apesar disso, lá conseguimos um valor simpático no Ibis local. Como de costume: descarregar, banho e toca a procurar onde jantar! 

Sem comentários:

Enviar um comentário